Resolvi fazer um adendo no blog para falar do "assento preferencial" nos transportes públicos da cidade de São Paulo e nos meios de transporte dos demais lugares... Essa reflexão pode se estender também para atendimentos preferenciais no geral. Em filas de banco, de farmácia, laboratórios, caixas eletrônicos, etc, etc...
Sempre, ao andar em transportes públicos, procurei dar preferência a quem eu achasse mais necessitado do que eu na hora de escolher ou não se ia me sentar. E essa preferência, da minha parte, nunca se restringiu ao símbolo que identifica gestantes, mães com crianças no colo, idosos, deficientes ou obesos... Mas sempre procurei recorrer ao bom senso. Uso todo o tipo de transporte público que a cidade de São Paulo oferece: taxi, ônibus, metrô, trem, vans, etc... e por usar transporte que atende a diversificadas classes sociais, também encontro ali todo tipo de gente, de pessoas que estão passeando até trabalhadores exaustos. Sendo assim, sempre cedi o lugar a quem eu considerasse estar mais cansado do que eu. Foram raras as vezes que me sentei sentindo que determinada pessoa à minha frente pudesse estar tão cansada quanto eu e, mesmo assim eu permanecesse sentada, aliás, bastante raras.
Engravidei e não aderi ao "direito do assento" por que minha condição e disposição física foi se alterando bem aos poucos. Eu sentia que estava bem, ali, de pé, e assim continuava. Apenas a partir do sétimo mês comecei a deparar com iniciativas de pessoas que se levantavam e faziam questão que eu me sentasse. Às vezes eu me sentava, às vezes não.
Depois que atingi a metade do oitavo mês a coisa começou a ficar mais pesada e eu passei a aceitar todas as ofertas de assento ou mesmo passei a tomar a iniciativa de me sentar em assentos preferenciais até para não atrapalhar o resto do povo pelo grande tamanho que meu corpo havia tomado.
Pois bem... Passei a entender e refletir sobre a questão do DIREITO com base na autoridade de quem pode usufruir dele (mesmo por que, à essa altura do campeonato, eu estava realmente precisando me sentar durante as viagens de ônibus, metrô e trem). Esse processo de relfexão foi alimentado por comportamentos de diversas pessoas com as quais viajei.
Encontrava todos os dias um rapaz jovem e bonito ao voltar do trabalho. Pegávamos o mesmo ônibus e ele fazia questão de sentar-se sempre à frente, num local de assento preferencial. Foram diversas as ocasiões em que adentrava ao ônibus uma senhora bem idosa, aliás, entram aos grupos; e ele jamais se levantou para ceder o lugar... Isso me causava um tremendo mau humor por que eu acabava levantando e cedendo o meu lugar enquanto ele ficava lá, tranquilo, sentado, até o final da sua viagem... Passei a observá-lo no ponto de ônibus, antes que o ônibus chegasse para decifrar e encontrar o problema que ele tinha...Se tinha uma questão motora...Não. Uma deficiência auditiva ou visual...Não. Mental...Tinha dúvidas... Cheguei à conclusão de que tratava-se de uma deficiência social: falta de educação... Não no sentido de ser mal educado, mas percebia que ele estava literalmente salvo e tranquilo, protegido pela ignorância, pela não reflexão. Ele devia sofrer de TDA-H (Transtorno de Déficit de Atenção - Hiperatividade, algo que no caso dele jamais foi tratado). Mas deixo esse rapaz de lado por que já me peguei alterada de raiva apenas por escrever e me lembrar dele.
Outra pessoa que me marcou profundamente foi uma senhora no metrô. Para evitar encontros com o tal rapaz, passei a pegar outro ônibus; ônibus que me levava até uma estação de metrô e que me fazia chegar, assim, mais perto de casa. Pagava um pouco mais por esse tipo de transporte "duplicado" mas isso evitava o desconforto das reflexões raivosas. Pois bem... Já estava no oitavo mês de gravidez e com uma barriga admirável. Entrei no vagão do metrô que estava simplesmente lotado. Avistei um assento cinza (o preferencial do metrô) e fui em direção à ele. Quando estava quase me sentando, passou uma senhora que aparentava ser bastante saudável (apesar do mau humor também aparente) e com não mais do que 60 anos. Essa senhora me pasmou antes de efervecer em mim a raiva que veio logo em seguida. Ela me segurou pela barriga (isso mesmo), me afastou e sentou no lugar onde eu já quase descansava a bunda. Fiquei ali de pé num estado de indignação por ter tido a barriga empurrada com agressividade, que quase chorei. Percebendo a situação, a pessoa que estava sentada no também preferencial assento ao lado da senhora grosseira, me cedeu o lugar... Sentei-me, então, lado a lado com aquela que havia acabado de me empurrar. Estava tentando respirar e tentando me acalmar quando, na proxima estação, duas portas distantes de onde estávamos sentadas, entrou uma nova multidão e uma senhora verdadeiramente idosa. Entre nós e ela, aproximadamente 50 assentos sendo que 6 ou 8 também eram preferenciais e muitos deles estavam ocupados por pessoas idosas, gestantes, com crianças no colo ou pessoas normais mesmo, que tinham sentado ali por um motivo qualquer.
A mesma senhora, que havia me empurrado minutos antes me cutucou com o peso da raiva nos dedos e disse: aquela mulher precisa sentar, está te chamando (para levantar? pensei eu). Em segundos tive diversas questões como por exemplo o fato de que eu também tinha direito e necessidade daquele lugar. Reconhecia sim que a senhora idosa talvez precisasse mais do lugar que eu mas me indignava a postura da outra senhora, raivosa e que não reconhecia nossa igualdade de direitos, mandando-me, praticamente sair dali. Respirei fundo ainda pensando no que fazer e antes que eu decidisse, a senhora idosa já havia sentado. Permaneci ali e saí apenas quando chegou o meu ponto de descida. Indignada, com raiva, sentindo-me mal e pensando, acima de tudo sobre a diferença entre uma pessoa velha e uma pessoa idosa... Esse assunto me deixou bem raivosa. Mesmo.
(continua...)