terça-feira, 18 de agosto de 2009

O parto: Alice chegou



A madrugada foi sim interrompida pelas contrações (que no momento não passavam de dor de barriga – a santa proteção da ignorância) mas entre uma crise e outra e entre tentativas inúteis de ir ao banheiro, eu consegui, incrivelmente, dormir bem. Incrível mesmo, pois em poucas horas aconteceria a culminância da gravidez, o nascimento da Alice. Impressionante sentir que sim, eu já havia concluído uma das experiências mais interessantes pelas quais o ser humano pode passar: gerar outro ser humano.

O parto seria outra experiência tão grandiosa quanto, mas de curto prazo com hora marcada para começar e 40 minutos para terminar... Uma cirurgia sobre a qual tive tantas curiosidades e, naturalmente, uma boa pitada de adrenalina e medo.

Pois bem...Levantei-me as 4:00 am tomei um banho morno para relaxar a ansiedade e antes das 4:20 já havia despedido-me muito rapidamente dos gatos com a promessa de que nos veríamos em breve (para não chorar). Lá embaixo, esperava pela Musa, minha grande amiga, carona e companhia da minha mãe nesse evento tão inédito e especial. Tinha também a Pri que as acompanharia, mas que chegaria um pouquinho mais tarde.

Ao chegar no hospital fiquei com as enfermeiras enquanto a minha mãe foi resolver a papelada.
A internação aconteceu numa sala de pré parto, onde ficávamos ali esperando a hora H e sendo, bem lentamente preparadas: soro, camisolinha, tricotomia (raspam a periquita mesmo com a depilação quase ok).

Eu e mais umas quatro mulheres esperando pela grande chamada... Naquela hora parecia algo tão comum... Só depois é que fui me dar conta de que jamais esquecerei o rosto de cada uma delas. Estavamos passando na mesma madrugada pelo momento mais marcante das nossas vidas. Das cinco, apenas uma estava indo para o segundo filho; as demais estavam vivendo exatamente o mesmo turbilhão que eu.

Como num passe de mágica, eu passei a ter contrações de parto... Era como se Alice viesse ao encontro da nossa hora marcada para nascer, o que me deu certo alívio.

Pois bem... Chegou a hora de ir para o centro cirurgico e me levaram... no caminho, deitada na maca que era conduzida por duas enfermeiras tranquilas, eu pensava e sentia um misto de coisas...emoção e medo acima de tudo.

Ao chegar no Centro Cirúrgico, me colocaram numa maca bem mais estreita (pesando o que eu pesava, qualquer maca pareceria estreita) e dura... O anestesista chegou, fez algumas perguntas, me deu anestesia e logo meu médico chegou também.

O tempo da cesárea passou rápido mas eu não perdi nada nada daquela experiência que eu queria tanto ter na vida. Os médicos batem papo na hora do parto e o papo dos meus foi interessantíssimo... Falaram um pouco de enologia (que eles acham viadagem...eu também acho um pouco, nunca senti sabor amadeirado ou de chocolate num vinho), e sobre risotos e tartufos... Embora eu discordasse de boa parte do que eles estavam falando, fiquei quietinha apenas sentindo os cortes (não a dor, claro) e tentando entender exatamente o que acontecia já que aquele monte de panos cinza na minha frente me poupavam da carnificina que acontecia ali, em mim.

Perguntei para o anestesista em que parte estávamos e ele disse que ainda nem tinha começado... Eu sabia que era mentira e ele sabia que não me enganava e logo retrucou: “Está quase nascendo”. É engraçado por que dá pra sentir tudo... Deu pra sentir Alice saindo de dentro da barriga e logo me mostraram aquela menina minúscula, roxa e com uma gotinha de sangue entre o nariz e a testa.

Enquanto preparavam Alice e o meu médico me costurava (dá pra sentir tudo também!) eu fiquei ali pensando que tinha bem pouco tempo para tentar organizar a vida... Alice voltou pra perto de mim e a enfermeira a encostou no meu rosto... o rostinho pequeno e quente que deitou sobre o meu foi bastante especial e querido.

Saindo dali, fui para a sala onde me recuperei e aos poucos iam chegando as outras mulheres da sala de pré-operatório. Nosso reencontro já com as barrigas vazias e a responsabilidade de sermos mães. Passamos horas nos recuperando com uma sonolência gostosa e com os bebês vindo um pouquinho para junto de nós para serem amamentados. Embora eu não tivesse ainda nem um pouquinho de leite, a Alice já mamava como se tivesse sabido sempre que assim continuaria seu processo de nutrição, após o cordão umbilical. E sabia mesmo.

A primeira noite não foi nada legal. Dava uma insegurança danada deitar e levantar da cama por causa do corte... A dor não era intensa... Mas doía um pouco sim... E a Alice não dormiu... Pegava no sono e em 5 ou 10 minutos chorava de novo... Eu tinha uma companheira de quarto, a Noemi com sua filhinha Helena que nascera dois dias antes da Alice. Sorte a minha que a Helena também não dormia; assim eu não me senti tão culpada por perturbar o descanso delas... A situação era a mesma.

Meu leite veio só três dias depois e foi bastante angustiante imaginar esse tempo todo que a Alice estava sem comer... Mesmo com os médicos dizendo que os bebês nascem com uma reserva, aquilo me deixava angustiada.

Recebi um monte de visitas importantes no hospital e um monte de ligações de amigos que não puderam ir pelo tempo frio e chuvoso de São Paulo, minha cidade tão querida.

A hora de ir embora foi um misto de emocão com medo, como todo o processo de gravidez e parto (analisando friamente, agora....)

Pois é... A partir desse momento, acabou gravidez...

Agora o negócio é ser mãe e sobre esse assunto, vou continuar fazendo registros em outro blog que leva esse mesmo nome: “Agora o negócio é ser mãe”. Além de fazer alguns registros sobre o desenvolvimento da Alice, vou tentar fazer reflexões sobre o desenvolvimento infantil com base nas coisas que eu já estudei e na minha experiência como “dona” de uma criança.

Então, o que posso dizer é obrigada para os que me acompanharam aqui e nos encontramos no meu novo endereço: http://agoraonegocioesermae.blogspot.com/

sábado, 8 de agosto de 2009

um pouquinho antes do parto - outras reflexões sobre o dia anterior


O dia anterior ao do parto, como em todos os outros dias deste mesmo mês, sentia de maneira plena o significado de estar no limite da gravidez... Pernas, pés, andar, respiração... Tudo muito sofrido. Isso sem falar nas dores... Nesse dia finalmente usufrui em dois diferentes estabelecimentos, de prioridade total: Entrei no banco e fui atendida imediatamente; na frente de velhos e idosos (ver a diferença entre velho e idoso na postagem que fala sobre o atendimento preferencial: a senhora do metrô está lá definida como velha) e até de outras grávidas...Estranhei a prioridade total mas usufrui dela, afinal a coisa tava preta. Mais tarde fui terminar o acordo de portabilidade do meu celular (programão de pré parto, não?). E nunca vi uma loja de operadora de telefonia celular ser tão rápida para atender e fazer negócio! Conclusão: estavam com medo de mim. Acho que nenhum estabelecimento quer uma mulher parindo ali...Era essa mesma a sensação que eu devia estar dando, pois no dia seguinte (o dia do parto) descobri que estava sim, entrando aos poucos em trabalho de parto naquela mesma noite.

Bem...O dia foi útil e intenso...Malas arrumadas, um pouco de choro escondido no banheiro por saber que em poucas horas, na madrugada seguinte, já estaria internada e com a minha vida radicalmente modificada. Isso sem falar nos gatinhos Jack e Nick 13... Despedir-me deles homeopaticamente estava sendo realmente dolorido.

Passei bem a noite embora tivesse me levantado diversas vezes com uma dor de barriga incrível, semelhante a uma cólica intestinal que horas depois fui saber tratar-se mesmo mesmo de contração.